Com tramas cada vez mais dinâmicas e públicos sempre à espera de novas reviravoltas, as novelas precisam montar uma estrutura narrativa forte para aguentar tantos movimentos sem perder a coerência. Ao alinhar toda a trama de “Família é Tudo” com o desaparecimento da matriarca Frida, de Arlete Salles, e a maratona para garantir que a herança fique entre os cinco netos da desaparecida, o autor Daniel Ortiz sabia que poderia até entreter e prender o espectador com outros ganchos, mas em algum momento ele teria que voltar a desenvolver seu tema principal.
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Destacando a boa organização do romancista e de seus colaboradores, agora é possível perceber que, mesmo silenciada, a trama sobre a avó sempre permeou a história de forma misteriosa, mas foi facilmente identificada pelo espectador mais atento.
Preparando-se para mostrar tanto o destino das gêmeas Frida e Catarina, mas também para compartilhar com o público mais detalhes da morte de Pedro, de Paulo Tiefenthaler, Ortiz baixa um pouco o tom cômico de “Família é Tudo” para apostar em uma boa vinda clima policial, referência direta aos anos em que trabalhou como colaborador e coautor ao lado de Silvio de Abreu.
Neste novo contexto é ainda possível introduzir novos personagens como Maya e Ernesto, de Sabrina Petraglia e João Baldasserini. Ao aumentar as tensões, a novela segue um caminho mais desinteressante e evita repetir até a exaustão as próprias piadas. A disputa amorosa entre Andrômeda, Chicão e Sheila, de Ramille, Gabriel Godoy e Marianna Armellini, em relação aos seus respectivos cães, é criativa e divertida, mas já vinha sendo explorada demais e perdendo a graça.
Embora a questão da irmandade feminina esteja em pauta, as novelas parecem ignorar o assunto e ainda investem fortemente na disputa entre suas personagens femininas. Só em “Família é Tudo”, além das brigas no núcleo cômico, também há brigas envolvendo Vênus e Paulina, de Nathalia Dill e Lucy Ramos, além de Electra e Jéssica, de Juliana Paiva e Rafa Kalimann. A tática já fez muito sucesso e promoveu grandes audiências quando os personagens realmente partiram para agressões físicas, hoje soa simplesmente anacrônica e cansativa.
Depois de um início com repercussão maior que a esperada, a média de audiência da atual novela das sete já é melhor que a de sua antecessora, “Fuzuê”. No entanto, permaneceu estagnado durante semanas. Portanto, é normal que a trama insista em situações que, historicamente, poderiam atrair mais público. Voltando ao eixo de sua trama e com uma história com potencial para ser desenvolvida, a produção precisa decidir se segue seu caminho e mostra seu diferencial ou apenas se adapta ao que os executivos da emissora consideram popular.
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