A chef de sushi Beatriz Suzuki, 31 anos, descobriu aos 25 que tinha câncer colorretal. Moradora de Clementina (SP), cidade de 8 mil habitantes, ela ignorou sintomas como sangue nas fezes e dor ao evacuar durante três anos.
Curada da doença, Suzuki agora usa as redes sociais para compartilhar sua experiência e conscientizar as pessoas na faixa dos 20 anos a procurarem ajuda médica caso se identifiquem com sua história.
“A primeira coisa que fiz quando recebi o diagnóstico foi procurar alguém que estivesse passando pela mesma situação. Na época não conheci ninguém, só pacientes com câncer de mama. Pacientes com câncer de intestino têm experiências muito específicas e precisam de identificação”, relata.
Com um grupo no Facebook com quase 500 membros e mais de 500 mil visualizações nas redes sociais, Suzuki chamou até a atenção de Preta Gil, que enfrentou a mesma doença em 2023. Ambas tiveram que usar bolsa de ostomia como parte do tratamento.
Apesar de ter ignorado os próprios sintomas, Suzuki teve a sorte de o câncer intestinal ter sido descoberto precocemente, quando era necessária apenas uma cirurgia para retirada do tumor. A bolsa de ostomia foi usada por dez meses devido a uma complicação, uma fístula intestinal.
Para Suzuki, aceitar a bolsa de ostomia não foi fácil. “No início, eu não conseguia nem olhar para ela. Mas aí comecei a ver as coisas de forma diferente, não romantizando, mas entendendo que, sem ela, eu não estaria vivo.’
“Tive apenas um sintoma inicial aos 22 anos, que foi sangramento quando evacuei. Como não era constante, simplesmente ignorei, até chegar a um ponto crítico”, lembra Suzuki.
Aos 22 anos, Suzuki marcou consulta com um coloproctologista, por insistência da família. “Foi feito um exame de toque que detectou uma ferida”, lembra.
Na consulta, o médico receitou uma pomada e um remédio, além de encaminhá-la para uma colonoscopia. Porém, ela não tomou a medicação nem compareceu ao exame.
‘Eu ignorei o conselho médico. Achei que fosse só uma hemorróida e que poderia esperar alguns anos. Além disso, eu teria que parar de beber álcool para tomar meus medicamentos e não queria desistir disso”, diz ela.
Suzuki estava em processo de luto pela morte de seu pai e usou álcool para tentar aliviar a dor. ‘Eu não tinha ideia de quão graves eram os sintomas e afetariam minha qualidade de vida.’
Dois anos depois, surgiram outros sintomas, incluindo perda de peso que ela atribuiu a hábitos alimentares saudáveis e exercícios regulares. “Mas eu ficava cansada só de andar um quarteirão e o sangramento tornava-se diário e intenso”, acrescenta ela.
No mesmo ano, fortes dores abdominais a levaram a procurar atendimento de emergência. “Contei ao médico tudo o que vinha ignorando. Ele solicitou exames, inclusive uma colonoscopia, que demorou um ano para ser realizada pelo SUS”, explica.
O diagnóstico veio um ano depois, em 2018, duas semanas após o exame. ‘Na nossa tenra idade, pensamos que nada pode nos afetar. Fazemos planos, mas sem saúde nada é possível”, reflete Suzuki.
O câncer de intestino pode se desenvolver ao longo dos anos. O oncologista Lucas Vieira dos Santos, do Hospital Beneficência Portuguesa, destaca que há casos em que a doença progride ao longo de uma década.
‘Tudo depende da agressividade do câncer no paciente. Existem pessoas com formas mais agressivas da doença. Em geral, os pacientes começam a apresentar sintomas em poucos meses”, explica.
Independentemente da idade, os principais sintomas do câncer de intestino incluem alterações no trânsito intestinal (como diarreia, prisão de ventre, sensação de evacuação incompleta), dificuldade para evacuar e, eventualmente, sangue nas fezes.
‘O paciente pode notar sangue ao se limpar após evacuar. Cólicas, falta de apetite, perda repentina de peso e cansaço constante são sinais importantes. Em fases mais avançadas pode haver aumento do volume abdominal», acrescenta Vieira dos Santos.
Segundo Túlio Pfiffer, oncologista clínico do Hospital Sírio Libanês, cerca de 15% dos tumores intestinais têm base genética, mas não são a única causa da doença.
A síndrome de Lynch e a polipose adenomatosa familiar aumentam o risco de câncer colorretal, assim como as doenças inflamatórias intestinais, como a doença de Crohn e a colite ulcerativa.
Um estudo da American Cancer Society (ACS), divulgado em 2023, indica que o diagnóstico de câncer colorretal entre adultos de 20 a 39 anos aumentou entre 1% e 2,4% ao ano desde a década de 1980. Os maus hábitos estão entre as principais causas.
O tratamento adequado para um tumor intestinal depende do estágio em que é diagnosticado, dizem os especialistas. O uso temporário ou permanente de bolsa de ostomia pode ser necessário em casos de obstrução intestinal.
“A medida de prevenção mais importante é que todas as pessoas, mesmo sem sintomas ou histórico familiar, façam uma colonoscopia preventiva a partir dos 45 anos. Para quem tem histórico familiar, é importante procurar orientação especializada”, finaliza Pfiffer.
**Com FolhaPress
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