Presidente também descarta desvinculação do Benefício de Prestação Continuada do salário mínimo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) levantou dúvidas nesta quarta-feira (26) sobre a necessidade de cortar gastos para melhorar o equilíbrio fiscal do governo. O presidente afirmou que será preciso analisar se a questão pode ser resolvida com aumento de arrecadação.
“O problema não é ter que cortar. O problema é saber se realmente é preciso cortar ou se é preciso aumentar a receita. Temos que tomar essa decisão”, disse o presidente, em entrevista na manhã desta quarta-feira (26). com o portal UOL.
O petista também descartou a possibilidade de desvincular o BPC (Benefício de Prestação Continuada), benefício que é concedido a idosos de baixa renda e pessoas com deficiência, do valor do salário mínimo. A medida foi discutida pelo seu governo.
Lula acrescentou ainda que seu governo está fazendo uma análise para saber se há “gastos excessivos”, mas que isso está sendo feito “sem levar em conta o nervosismo do mercado”.
Questionado pelos entrevistadores sobre as medidas que têm sido discutidas pelo seu governo para melhorar a situação fiscal, nomeadamente a dissociação do BPC, respondeu que não faria isso: “Não é [possível desvincular o BPC]porque eu não considero isso um desperdício, pessoal.”
Ele também descartou qualquer mudança na política de aumento do salário mínimo. O presidente acrescentou ainda que iria para o “purgatório” se mudasse um pouco.
A pressão para que o governo corte os gastos cresceu nas últimas semanas, com a crescente desconfiança dos investidores no compromisso do governo Lula em garantir o equilíbrio das contas públicas.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já repetiu que os esforços do governo em relação às contas públicas foram para evitar cortes que impactem os trabalhadores e os mais pobres —discurso que Lula também utiliza.
O risco de alteração das regras do marco fiscal para acomodar o crescimento das despesas obrigatórias entrou no radar após reunião do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no dia 7 de junho, com representantes de instituições financeiras.
A rejeição pelo Congresso da MP (medida provisória) que restringe a utilização de créditos de PIS/Cofins para financiar a desoneração da folha de pagamento para empresas de 17 setores e municípios gerou preocupação. A leitura é que há um esgotamento da agenda de ajuste fiscal de Haddad do lado do aumento da receita.
O presidente descartou ainda qualquer medida de benefícios fiscais para o setor automóvel, defendendo que é necessário reforçar “a produção e as vendas”.
Ele também defendeu a revisão de alguns impostos, citando como exemplo os relacionados à carne. Ele disse que é preciso haver uma diferenciação entre a porção desse produto que é consumida pelas classes altas e aquela que está na mesa dos mais humildes.
“Então, eu acho que você tem que separar, até na questão da carne, os empresários querem que você isente toda carne. consumir”, afirmou.
“Então, você pode fazer a separação: carne de frango, você não vai taxar frango, carne de frango é o que as pessoas comem todos os dias, pés de galinha, pescoço de frango, peito de frango. a inflação está controlada neste país, a inflação está controlada neste país”, acrescentou.
Lula afirmou ainda que tem divergências com seu chefe da equipe econômica, Fernando Haddad, e que a relação deles permite que essa falta de acordo seja expressada.
“Haddad é uma pessoa muito importante para mim e para o país. E quero muito bem o Haddad. Obviamente que temos diferenças, nem sempre compartilho tudo o que o Haddad pensa e quero que ele não compartilhe tudo o que penso. Portanto, temos liberdade de dizermos uns aos outros: ‘Concordo com isso, não concordo com isso’, isso é saudável”, afirmou.
“Haddad é um companheiro que tem 100% da minha confiança, Rui [Costa] Vocês têm 100% da minha confiança porque montei uma boa equipe”
LULA DIZ QUE NÃO RECOMENDARÁ BC AO MERCADO
O presidente também criticou mais uma vez a taxa básica de juros, que atualmente está em 10,5%. Ele afirmou que não é compatível com um cenário de inflação estável.
Lula afirmou ainda que o presidente da República não deveria ser responsável por criticar a taxa de juros e pediu ao setor produtivo que fizesse “protestos” para reclamar das decisões do Copom (Comitê de Política Monetária).
“É necessário que os empresários do setor produtivo, CNI, Fiesp, ao invés de reclamarem do governo, façam uma marcha contra os juros porque quem está com dificuldades são eles e não o governo”, afirmou o presidente.
O presidente também foi questionado sobre a sucessão de Roberto Campos Neto à frente do Banco Central, em especial sobre o favoritismo de Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária da instituição. Ele respondeu que ainda não está preocupado com o assunto.
“O Galípolo é um companheiro muito preparado, conhece muito do sistema financeiro, mas ainda não estou pensando na questão do Banco Central”, afirmou.
O presidente acrescentou ainda que sua nomeação para a instituição não terá como objetivo agradar o mercado financeiro.
“Eu não indico presidente do Banco Central para o mercado. Eu indico presidente do Banco Central para o Brasil. Ele vai ter que cuidar dos interesses do Brasil. E o mercado, seja o mercado financeiro e o mercado empresarial, mercado produtivo , Você vai ter que se adaptar a isso”, acrescentou.
*Informações da Folhapress
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