Por Fabrício de Castro
SÃO PAULO (Reuters) – As taxas do DI fecharam sexta-feira em baixa firme entre os contratos de janeiro de 2026 em diante, em mais um dia de queda do real frente ao real e de queda nos rendimentos do Tesouro no exterior, movimento ainda ajudado pelas duras declarações feitas pelo um dia antes pelo diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo.
Esses fatores baixistas acabaram deixando em segundo plano a inflação medida pelo IPCA durante o dia, que ficou acima do esperado. Mesmo assim, as taxas de curtíssimo prazo terminaram em alta, prevendo maiores chances de alta da Selic em setembro.
No final da tarde desta quarta-feira, a taxa DI (Depósito Interbancário) para janeiro de 2025 – que reflete a política monetária no curtíssimo prazo – estava em 10,745%, um aumento de 6 pontos base em relação ao reajuste de 10,685% anterior.
A taxa DI para janeiro de 2026 foi de 11,525%, ante 11,57% do reajuste anterior, enquanto a taxa de janeiro de 2027 foi de 11,545%, ante 11,691%. Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 foi de 11,62%, ante 11,846%, e o contrato de janeiro de 2033 teve taxa de 11,6%, ante 11,83%.
Na abertura da sessão, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o índice oficial de inflação, o IPCA, subiu 0,38% em julho, registando a taxa mais elevada desde fevereiro, depois de subir 0,21% em junho. Nos 12 meses até julho, o IPCA aumentou 4,50%, permanecendo no teto da meta de inflação do Banco Central.
Os números vieram um pouco acima das expectativas destacadas pelos economistas em pesquisa da Reuters, de alta de 0,35% em julho e alta de 4,47% em 12 meses.
Apesar dos números do IPCA terem sido um pouco piores do que o esperado, as taxas do DI caíram precocemente na maioria dos vencimentos, refletindo mais diretamente uma nova queda do dólar frente ao real e a queda nos rendimentos do Tesouro.
“O IPCA não deu motivos para fechar a curva brasileira. Veio acima das expectativas, trouxe alguns sinais de alerta para a inflação, mas temos um dia tranquilo lá fora, com os rendimentos do Tesouro caindo”, comentou Luciano Rostagno, estrategista-chefe e sócio da EPS Investimentos, durante a tarde.
“A semana termina positiva, reforçando as apostas num corte de juros por parte da Reserva Federal a partir de setembro, com possibilidade significativa de redução de 50 pontos base, e o mercado coloca isso na curva”, acrescentou Rostagno.
O cenário global mais positivo também influenciou a nova queda do dólar frente ao real, com a moeda norte-americana oscilando abaixo de 5,50 reais no mercado à vista.
“Há um ‘risk-on’ (busca de risco) no mercado global, que favorece as moedas emergentes. Assim, o câmbio está ajudando a fechar a curva, com o dólar abaixo de 5,50 reais”, disse o economista-chefe do banco Bmg, Flavio Serrano.
Em sua última reunião, quando manteve a taxa básica de juros em 10,5%, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC traçou seu cenário de referência para a inflação com base no dólar a 5,55 reais – valor acima do visto nesta sexta-feira.
Outro fator para a queda constante das taxas DI, principalmente as de longo prazo, foram as declarações feitas na véspera por Galípolo, consideradas duras com a inflação por profissionais do mercado.
Ele reforçou que os diretores do BC estão dispostos a fazer “o que for necessário” para perseguir a meta de inflação e que as faixas do regime “não foram pensadas para reduzir o esforço de perseguir” o centro da meta.
“A curva de juros reagiu a isso, a taxa de juros longa caiu… Toda a ponta longa caiu, reagindo a esse discurso mais duro”, avaliou o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, em comentário enviado esta manhã. aos clientes. “Ele (Galípolo) queria deixar claro que o BC está preparado: se precisar aumentar os juros, vai aumentar os juros”, acrescentou.
Essa percepção de um BC mais duro, disposto a subir a Selic se necessário, acabou favorecendo um movimento misto para a curva, com taxas muito curtas subindo, mas taxas longas caindo.
Assim, perto do fechamento, a curva brasileira precificou 20% de probabilidade de manutenção da taxa Selic em 10,50% ao ano em setembro, na próxima reunião do Copom. A probabilidade de um aumento de 25 pontos base era de 80%. Na véspera, os percentuais eram de 48% e 52%, respectivamente.
Às 16h38, o – referência global para decisões de investimentos – caía 5 pontos-base, para 3,946%.
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