O nível dos reservatórios hidrelétricos continua caindo em todas as regiões do Brasil. Segundo dados do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), o volume do sistema Sudeste/Centro-Oeste, que reúne 70% dos reservatórios do país e serve de referência, continua sendo o menor, de 51,6%.
Como mostra o Poder360o patamar era de 53,1% na quarta-feira (11 de setembro). Ou seja, houve uma descida de 2 pontos percentuais no sistema onde está instalada a central das Furnas, um termómetro da situação energética nacional. O nível do reservatório está em 44% – até o final de agosto, o nível estava em 51%.
De quarta a sexta-feira (13 de setembro) – último dia com dados mais recentes – o sistema que registou a maior queda foi o sistema Sul. O patamar das hidrelétricas do sistema caiu de 58,7% para 54,8%.
Os números eram esperados para o período de seca, mas alertam para níveis ainda mais baixos nos próximos meses. Parte do Brasil vive a pior seca dos últimos 44 anos.
A situação dos reservatórios hidrelétricos é crucial para o sistema elétrico do país. A energia produzida nas hidrelétricas corresponde a cerca de 60% do sistema brasileiro.
O governo já ativou o alerta e a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) elevou a bandeira tarifária para vermelha – a conta de luz ficou mais cara – para pagar o acionamento das térmicas.
RISCO DE BLACKOUT
Para o Poder360sócio-fundador e diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura) e colunista do Poder360Adriano Pires, disse que o cenário é preocupante. Segundo o especialista, a crise que surge em 2024 deverá ser mais grave do que a de 2021, pois poderá causar mais problemas nos horários de pico de consumo de energia.
Isso se deve ao fato de que os subsídios para instalação de painéis solares transformaram o hábito dos brasileiros de poder pagar pela tecnologia. Os proprietários dos painéis têm desconto na tarifa para produção de sua energia durante o dia, mas à noite dependem de térmicas e hidrelétricas.
“Meu medo é que, diferentemente de 2021, você tenha um problema muito mais sério na linha de frente. Você pode ter problemas com o serviço de pico por causa da energia solar. O ONS não tem ideia de quanto custa essa energia solar, quando o sol se apaga ele entra no sistema para continuar gerando energia, mas à medida que a conta de luz dos cidadãos ficou mais barata, seus hábitos mudaram e o consumo ficou muito maior”, disse Pires.
O especialista disse que ainda é cedo para antecipar o cenário futuro e se o país tem chances de conviver com apagões nas próximas semanas e meses. O certo é que, se a falta de chuvas continuar, o vermelho da bandeira tarifária prevalecerá.
“O nível [dos reservatórios] O alerta já foi dado, tanto que o governo está despachando térmicas diretamente. Dizem que essa bandeira vermelha deve ficar até dezembro”, afirmou.
A PIOR SECA DA HISTÓRIA
Segundo o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), o Brasil enfrenta pior seca desde o início dos registros da série histórica, em 1950.
A seca actual é mais severa que as registadas em 1998 e 2015/2016 e afecta 58% do território nacional.
Cemaden enviou o Poder360 mapas que mostram a progressão da seca nos últimos 13 anos. Em 2024, é possível perceber que o fenômeno atingiu uma área maior do território nacional e de forma mais grave.
Para o Poder360A especialista em secas do Cemaden, Ana Paula Cunha, afirma que o aumento do fenômeno está relacionado a uma mudança no padrão de aquecimento e resfriamento dos oceanos Pacífico e Atlântico Tropical.
Segundo ela, as mudanças no uso da terra, como o desmatamento, também contribuem para mudanças nos padrões locais de precipitação e temperatura.
“Os dados mostram que em anos de secas intensas e prolongadas temos sempre números elevados de incêndios. É facto que as secas contribuem para a maior propagação dos incêndios. A questão é que o fogo é utilizado como prática de gestão agrícola, que é em grande parte cultural”, disse.
INCÊNDIOS
Além da redução dos reservatórios das hidrelétricas, setembro também registrou aumento no número de incêndios. O mês já caminha para superar os recordes de agosto, quando foram registradas 68.635 ocorrências desse tipo, segundo dados do sistema BDQueimadas do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Foi o maior número para o período desde 2010 – quando foram registrados 91.085 surtos – e o 5º pior da série histórica, iniciada em 1998.
O mês ainda não acabou, o Brasil já registrou (de 1º a 13 de setembro) 53.086 incêndios. Se continuar nesse ritmo, setembro poderá terminar com mais de 100 mil surtos – considerando a média diária registrada até agora.
O crescimento do número de incêndios também está associado à pior seca da história do país.
Entenda as causas:
A seca e a estiagem que atingem a maioria dos municípios são comuns no inverno brasileiro. A temporada começou em junho e continua até o final de setembro. Porém, a intensidade com que ocorrem na temporada deste ano é atípica. Existem 2 fatores que mais impactam o cenário:
- fortes ondas de calor – foram 6 desde o início da temporada, segundo o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais). Por outro lado, as ondas de frio foram de apenas 4;
- antecipação da seca – em algumas regiões do Brasil, o período seco começou antes do inverno. Na Amazônia, por exemplo, a seca se intensificou quase 1 mês antes do previsto, no início de junho.
SECA NA AMAZÔNIA
Na região amazônica, além das queimadas, a seca assume contornos preocupantes. Os municípios amazônicos enfrentam cerca de 1 ano de seca. É a seca mais longa já registrada. Existem 3 causas principais:
- Intensidade do El Niño – o regime de chuvas foi impactado pelo fenômeno que aquece as águas do Oceano Pacífico. Atingiu o pico no início deste ano e influenciou o início da seca;
- aquecimento anormal das águas do Atlântico Tropical Norte – a temperatura na região marítima, que está acima da América do Sul, aumentou de 1,2 °C para 1,4 °C em 2023 e 2024;
- registrar temperaturas globais – em julho, o mundo bateu o recorde de temperatura mais alta já registrada na história. O cenário cria condições para ondas de calor mais fortes.
AUTORIDADE CLIMÁTICA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou nesta terça-feira (10 de setembro de 2024) a criação da Autoridade do Clima, órgão responsável por monitorar e cumprir as metas ambientais do governo federal. Também será responsável por ações integradas com Estados e municípios.
Essa é uma das principais promessas de campanha para as eleições petistas de 2022, mas até agora não havia se concretizado.
O anúncio foi feito durante reunião com prefeitos em Manaus (AM), uma das regiões mais afetadas pelas mudanças climáticas e que enfrenta uma seca recorde. Apesar do anúncio, o petista não detalhou quem indicaria para chefiar o novo órgão.
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