SÃO PAULO (Reuters) – O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quinta-feira que as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva impactam negativamente os preços de mercado e que o efeito desses movimentos pode dificultar a atuação da autoridade monetária.
“O que foi mostrado no passado recente – não é minha opinião, é uma observação – quando olhamos os movimentos do mercado em tempo real com os pronunciamentos, você teve piora em algumas variáveis macroeconômicas, em alguns preços de mercado”, disse Campos Neto em entrevista à imprensa em São Paulo, quando questionado se as recentes declarações do presidente sobre política fiscal dificultam o trabalho do BC.
“Então é óbvio que quando você aumenta o prêmio de risco, por qualquer motivo, independente de qual seja o motivo, esse aumento do prêmio de risco, com volatilidade, obviamente dificulta o trabalho (do BC) ao longo do tempo”, continuou.
Campos Neto, que participou da coletiva de imprensa trimestral do banco para apresentação do relatório de inflação, destacou que os modelos utilizados pelo BC funcionam “muito fortemente” através do canal de expectativas, que é influenciado pelo nível do prêmio de risco do país, o que também impacta política monetária.
Ele considerou que Lula “tem todo o direito” de se manifestar em relação ao que está acontecendo no BC ou em qualquer outro órgão.
Na quarta-feira, as declarações de Lula sobre a área fiscal aceleraram os ganhos frente ao real e as taxas DI avançaram, pesando sobre o . O facto de o presidente ter demonstrado resistência aos cortes nas despesas do governo gerou desconforto entre os investidores.
Lula, que também tem feito reclamações diretas sobre Campos Neto e a atuação do BC, criticou nesta quinta-feira quem aposta no fortalecimento do dólar frente ao real.
“Quem apostar no fortalecimento do dólar frente ao real estará arruinado”, disse Lula em discurso durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável, o “Conselhão”.
“Quem aposta em derivativos vai perder dinheiro neste país”, acrescentou.
Depois de o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, afirmar esta semana que a percepção do mercado sobre a situação fiscal não está se deteriorando, Campos Neto disse que há uma percepção entre os analistas de uma piora nas contas públicas.
Ele afirmou ainda que os números de curto prazo mostram grandes divergências nas expectativas para o quadro fiscal.
O boletim Focus mais recente do BC, que capta as projeções do mercado, mostra expectativas de um déficit primário de 0,70% do PIB este ano, mesmo nível estimado há um mês – e longe do déficit zero perseguido pelo governo.
O diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, que também participou da coletiva, citou dados do questionário enviado pela autoridade monetária aos analistas de mercado antes de todas as reuniões do Comitê de Política Monetária que mostram uma piora na avaliação da situação fiscal.
(Por Fabrício de Castro e Bernardo Caram)
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