Os planos do governo federal para dragagem de rios e canais utilizados pela navegação comercial foram apontados como deficientes por líderes do setor em reunião com membros do Executivo.
Na reunião, representantes do sector privado afirmaram que, mesmo com o agravamento dos problemas, faltam definições básicas como datas estimadas e critérios de execução dos serviços.
A dragagem – retirada de resíduos dos leitos para manter as condições de navegação ou ampliar a capacidade – constitui um dos principais gargalos do setor, sendo uma demanda de longa data. Atualmente, a necessidade desses serviços é mais evidente para a navegação interior, realizada por rios, que sofrem com a estiagem e tiveram sua vazão comprometida.
“Frustração é a palavra. Esperava um plano com datas e metas”, disse o diretor-executivo do Centro Nacional de Navegação Transatlântica (Centronave), Claudio Loureiro de Souza. O representante disse que, sem ultrapassar os obstáculos actuais, as actividades do sector continuarão a sofrer um “escândalo”, com a procura limitada devido à falta de infra-estruturas.
O encontro aconteceu durante evento realizado pela Frente Parlamentar Mista de Portos e Aeroportos (FPPA) e pelo Instituto Brasileiro de Infraestrutura (IBI).
O plano nacional de dragagem, as capacidades portuárias e hidroviárias, as concessões e as parcerias público-privadas (PPPs) para acesso hidroviário são pontos centrais da discussão.
“Estamos em uma situação crítica. A demanda é entender quais são as metas objetivas e o que podemos fazer para acelerá-las. Não faltam recursos do setor privado. O que falta? O que precisamos mudar para acelerar isso? É um problema que não temos em outros países do mundo”, disse ele.
Planos governamentais
O plano do governo para enfrentar a situação é semelhante para a navegação interior (por rios) e para os canais marítimos.
A médio e longo prazo, o foco está na concessão de serviços de dragagem ao setor privado. Por outro lado, os serviços continuam a ser contratados através de concursos que têm a prestação acionada mediante procura.
“É adequado que a autoridade portuária tenha à sua disposição um contrato de dragagem para ser solicitado quando necessário. Hoje, quando é identificada uma necessidade, até que ela seja colocada em prática, levamos 12, 18 e até 24 meses para concluir uma contrato”, afirmou o secretário de Portos e Transportes Aquaviários, Alex Ávila.
Devido às alterações climáticas, as dificuldades de navegação nos rios aumentaram muito além do previsto, segundo avaliação do secretário das Hidrovias, Dino Antunes.
“Estamos em situações complicadas desde o ano passado. Nos rios Tapajós e Paraguai nunca foi necessária dragagem longitudinal. Um planejamento mais amplo garante ações mais permanentes”, disse.
Para que o plano seja eficaz, avalia Antunes, é preciso vencer a burocracia na parte do licenciamento ambiental.
“Tivemos o desafio orçamental, que está a ser bem ultrapassado, mas temos o desafio ambiental. Esse é o desafio que ainda teremos de desenvolver diferentes instrumentos, para dragagens de emergência ou não. aborrecimentos que estamos tendo hoje com a questão ambiental”, afirmou.
Diálogo
O diretor do IBI, Mário Povia, disse que, neste momento, os dois tipos de dragagem merecem ação: dragagem de manutenção e dragagem de aprofundamento.
“Para resolver esta questão, precisaremos recorrer a um mecanismo de governação mais adequado às Autoridades Portuárias e procurar recursos privados para investimento”, destacou.
A avaliação do presidente da Frente Parlamentar Mista de Portos e Aeroportos, deputado Paulo Alexandre Barbosa (PSDB-SP), é que o encontro entre o poder público e a iniciativa privada ajuda a identificar uma solução sólida.
“Para que o Brasil tenha um plano de dragagem eficiente e competitivo é necessária uma união de esforços entre entes públicos, parlamento, atores privados, representantes da academia e de instituições”, argumentou.
Para reduzir os impactos, o presidente da Federação Nacional de Operações Portuárias (Fenop), Sérgio Aquino, apontou a necessidade de reduzir as taxas de serviço cobradas das empresas, pois elas sofrem com prejuízos pela redução da capacidade operacional.
“Várias regulamentações já foram tentadas. A atividade portuária está reduzida, restrita e sem condições de expansão”, afirmou.
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