Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) – A Tereos, segunda produtora de açúcar do Brasil, manteve a projeção de que conseguirá encerrar a safra 2024/25 com moagem de cana estável, semelhante ao recorde registrado no ciclo passado, apesar de uma seca que deve reduzir o total processamento no centro-sul mais do que o esperado.
Até o final de fevereiro, o CEO da Tereos no Brasil, Pierre Santoul, previa que a moagem na principal região produtora do Brasil cairia abaixo de 600 milhões de toneladas em 2024/25. Agora, ele vê uma queda para menos de 590 milhões de toneladas, com maior degradação dos canaviais devido ao tempo seco podendo levar a perdas de mais de 10% em relação ao recorde de 654,43 milhões de toneladas do ciclo passado.
Esta redução mais acentuada reduzirá a produção total de açúcar no centro-sul do país, maior produtor e exportador mundial da commodity, em mais de 2 milhões de toneladas em relação ao ano anterior, para menos de 40 milhões de toneladas, com consequências positivas em preços globais dos produtos, disse Santoul.
“Hoje existe um consenso de mercado de que serão de 41,5 a 42,5 milhões de toneladas, mas acreditamos que essa previsão cairá para menos de 40 milhões. Índia ou Ásia… O único lugar onde pode acontecer algo positivo ou negativo no mercado é o Brasil”, afirmou.
“Com esses 2 milhões de toneladas abaixo do consenso de mercado, que é a visão da Tereos, haverá uma recuperação positiva dos preços”, disse, lembrando que no ano passado, quando os preços do açúcar estavam mais altos, a empresa aproveitou para garantir vendas antecipadas de grande parte do volume previsto para 2024/25.
Ele evitou dar detalhes sobre a estratégia da empresa para 2025/26, mas admitiu que se a Tereos espera uma alta nos contratos futuros de açúcar bruto dos níveis atuais de cerca de 19 centavos de dólar por libra-peso na bolsa ICE, não há interesse em garantir as vendas.
Em entrevista a jornalistas para comentar os resultados da Tereos na safra passada, ele destacou que a empresa francesa, que opera sete unidades no Brasil, ainda poderá moer cerca de 21 milhões de toneladas de cana, nível recorde registrado em 2023 /24 e em linha com o previsto anteriormente, mesmo com condições meteorológicas adversas.
Isso será possível porque em 2024/25 a Tereos não venderá parte do excedente a terceiros, como aconteceu no ciclo anterior. Além disso, não “bissará” a cana, ou seja, não deixará matéria-prima nos campos da safra atual para a próxima safra, como aconteceu em 2023/24.
“A nova safra que já começou é super desafiadora, um verão super seco devido ao El Niño, apesar de ter tido fortes chuvas no sul do país, o centro-sul ficou com um déficit significativo… Então, a nossa visão é que com a moagem (no centro-sul, como um todo) certamente ficará abaixo de 590 milhões de toneladas”, afirmou.
Segundo Santoul, o “mix” canavieiro para produção de açúcar no Centro-Sul também não crescerá tanto quanto o esperado, e o Açúcar Total Recuperável (ATR), medida da sacarose da cana, “já está abaixo do previsto pelo fenômeno da degradação da cana-de-açúcar”.
O CEO da Tereos no Brasil lembrou que o “mix” médio de açúcar no centro-sul, que era de quase 49% no ano passado, poderia crescer para uma média de 51,6%, não fossem as condições climáticas. Agora ele disse que não acredita que possa “passar dos 50%”.
“Ele (o “mix”) vai melhorar, mas não na medida que se espera”, comentou, lembrando que o açúcar paga mais que o açúcar, o que explica um aumento na destinação de matéria-prima para adoçantes.
No caso da Tereos, empresa que tradicionalmente produz muito mais açúcar que a média do centro-sul, o executivo manteve a projeção de que a empresa destinará 70% da matéria-prima para a produção de adoçante.
O executivo lembrou ainda que a seca se agravou de forma que não favorece mais a concentração de ATR na cana-de-açúcar, resultando na queda da sacarose.
Mesmo assim, afirmou que a Tereos mantém a expectativa de atingir a produção de 2 milhões de toneladas de açúcar em 2024/25, ante 1,9 milhão de toneladas na temporada anterior. Isso porque terá uma moagem estável, mas aumentará o “mix” em três pontos percentuais em relação ao total registrado no ciclo passado, após investimentos realizados.
Do lado agrícola, a produção de cana-de-açúcar da Tereos foi de 22,5 milhões de toneladas em 2023/24 – 1,4 milhão de toneladas acima da moagem total da safra passada – e a empresa conseguiu vender o excedente aos concorrentes e ainda deixar parte para moagem no colheita atual.
Na temporada passada, com moagem recorde e preços mais altos, a empresa fechou com lucro operacional (EBIT) de 1,3 bilhão de reais, um crescimento de cerca de 120% em relação ao segundo melhor ano da história (safra 2020/21).
(Por Roberto Samora)
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